domingo, 26 de dezembro de 2010

Fidelidade é igual a churrasco de chuchu


A monogamia contraria a natureza humana, biologicamente falando, e não tem a mesma graça que a diversidade no plano horizontal é capaz de oferecer.


Entre os milhares de textos que eu já escrevi, editei, aprovei, um me surpreendeu. Era sobre uma daquelas pesquisas de comportamento que só os americanos esmiúçam bem. Segundo os resultados, um dos quatro tipos de mulher que mais atraem os homens é a… bem casada. E hoje sou uma delas. Não, não tenho a intenção aqui de despertar nos leitores de ALFA novas paixões, casos extracurriculares, rolinhos platônicos. Nem testar meu poder de sedução para fazer ciúme no meu maridão. Se bem que as revistas femininas, mês sim, mês também, orientam as leitoras a nunca dar total segurança, deixando o parceiro um tantinho desconfiado de que a mulher amada poderá um dia chutar a porta e partir sem pré-aviso, como certas heroínas da literatura e do cinema. Jogo da conquista eterno, meu caro.
Como eu disse, estou bem casada. Bem na fita. Bem consciente de que escolhi esse homem; e é com ele que eu quero estar, brindar, batalhar, ganhar dinheiro, viajar, construir castelos, fazer amor e sexo pra valer. Não é com o personal trainer, com o vizinho que cozinha tão bem a ponto de espalhar aroma de alecrim no corredor ou com o irmão mais novo da amiga cheio de testosterona para trocar.
Para mim, é inesquecível a definição que minha fonte de reportagens preferida sobre relacionamentos, o médico psiquiatra Paulo Gaudencio, dá para a fidelidade: “É como churrasco de chuchu”. Ele tem razão: a monogamia contraria a natureza humana, biologicamente falando, e não tem a mesma graça que a diversidade no plano horizontal é capaz de oferecer. Homens e mulheres que não sentem desejo erótico pela novidade já morreram e não sabem ainda. É ela que move o tesão.
Porém… a gente é fiel quando há (ótimas) compensações. Intimidade, cumplicidade, afeto trazem uma sensação de completude que não vale a pena dispensar — ao menos na opinião de uma bem casada, que prefere investir para dentro da relação a “lavar roupa para fora”, o que desperta nos homens o lado carente sob os pensamentos de “que sorte tem o homem dela, queria ser eu”.
A propósito, se você quer que a sua amada faça parte do grupo das mulheres bem casadas, e assim matar a torcida do seu time do coração e os engravatados com quem trabalha de invejinha e dor de cotovelo, saiba que uma das colas afetivas mais poderosas se chama ad-mi-ra-ção. Pondo a sugestão em águas cristalinas: seja um homem que alimenta admiração em sua mulher. Diariamente, sem folga nem nos feriados. Eu admiro o meu principalmente pela inteligência, por me escutar (e também me alertar quando banco a ingênua no dia a dia…), por trabalhar feito doido naquilo que adora e ainda assim cavar um(uns) tempinho(s) para nós. Sua mulher pode admirá-lo porque faz omeletes supercriativos, porque realiza bem cinco posições do Kama Sutra pelo menos (não tem desculpa, existem 529!), porque é um profissional prestigiado, porque é cheiroso e viajado, porque segura a onda dos filhos sem pôr toda a responsabilidade no colo dela…
Escolha seu cardápio de motivos para despertar admiração e ela vai saborear um benfeito churrasco de chuchu lambendo os finos dedos. Repetir, agradecida. Ficar viciada em você. O bom é que faz bem ao coração e não engorda.
(*) Joyce Moysés é redatora-chefe da revista NOVA: jmoyses@abril.com.br




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