quarta-feira, 30 de março de 2011

Consuela Castillo

"Ora, sou muito vulnerável à beleza feminina, como você sabe. Todo mundo se torna indefeso diante de alguma coisa, e no meu caso é isso. Diante de uma mulher bonita, não enxergo mais nada", admite Kepesh no início do segundo parágrafo - e não é preciso dizer muito mais. O "você" que aparece na frase mostra que ele fala com alguém, mas que permanece em silêncio durante quase todo o livro. Pequenas pistas desse interlocutor são dadas ao longo da narrativa. Porém, mais importante que a identidade desse ouvinte é a história que Kepesh vai desfiando.







Seu método manda nunca se envolver com uma aluna durante o semestre que dura o curso. Ao final do período letivo, realiza uma festa em seu apartamento, convida todos os alunos e acaba faturando alguma garota mais ou menos atiradinha. Ao conhecer uma de suas turmas novas, ele fica embasbacado com a beleza de Consuela Castillo, uma filha de cubanos culta e escultural (como se um raio caísse duas vezes no mesmo lugar). Logo vê que ela deve ser sua próxima amante.




Ao invés de transar com a garota e partir para a próxima, Kepesh fica de joelhos por ela (de verdade, enquanto lambe a menstruação que escorre por suas coxas em uma das cenas mais explícitas do livro). Aos poucos, não consegue pensar em outra coisa e Consuela vira uma obsessão. Se estivesse despencando de um precipício - e ele parece se sentir assim por ter 62 anos de idade -, a bela Consuela, de seios tamanho 44, seria a raiz de árvore na qual poderia se agarrar para evitar (ou ao menos atrasar) a queda. A explicação que dá para o arrebatamento que sente vem na página 35 e traz uma metáfora ótima relacionada ao beisebol:






Não me entenda mal. Não estou dizendo que, através de uma Consuela, você consegue se iludir e ficar achando que tem uma última oportunidade de ser jovem. Pelo contrário, a distância que separa você da juventude fica mais evidente do que nunca. Na energia dela, no seu entusiasmo, sua ignorância juvenil, sua sapiência juvenil, a diferença é enfatizada a cada momento. Você nunca tem a menor dúvida de que quem tem vinte e quatro anos é ela. Só mesmo um idiota pode achar que voltou a ser jovem, o que você sente é o contraste doloroso entre o futuro ilimitado dela e os limites do seu futuro, você sente mais até mais do que costuma sentir a dor da perda de todos os seus dons que já foram embora. É como jogar beisebol com um grupo de rapazes de vinte e poucos anos. Você não se sente jovem por estar jogando com eles. Você nota a diferença a cada segundo do jogo. Mas pelo menos você não está sentado, de fora, assistindo. O que acontece é o seguinte: você sente da maneira mais dolorosa o quanto envelheceu, só que de uma maneira nova.



Philip Roth in: O animal agonizante.

PS: para os homens que jamais amaram de verdade, aqui deixo o vídeo.

http://www.redefilmesonline.net/2010/11/fatal-beleza-esta-nos-olhos-de-quem-ve.html

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